quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

CAMA DE ASFALTO!!!



O sol espalhava seus primeiros raios tingindo tudo de esplendor, quase tudo, pois chegava aos olhos de Régis que acordava praguejando mais um dia que começava. Tudo lhe doía, pois sua cama era o chão duro forrado com um pedaço de papelão, quando tinha papelão, quando não, era o asfalto cru mesmo. Levantou, olhou ao redor, mas dentro de si tudo era cinza, perguntava-se interiormente por que tinha que ser assim? Por que sua vida tinha sido um fracasso? Tantas dúvidas lhe corroíam as entranhas, mas naquele momento a fome gritava mais alto, precisa comer algo. Enrolou seu papelão e cobertor velho e surrado e pendurou na árvore que lhe servia de guarda cama. Saiu em busca de algo para comer. Caminhava praguejando a vida, ia pedindo a um e a outro sem nada conseguir. Ficou estacionado na saída de uma padaria, pedindo esmolas.




Não conseguia sair de dentro de si e de sua miséria e olhar ao redor, se oferecer para ajudar alguém, não se dispunha a pequenos trabalhos para ganhar alguns trocados, só queria pedir e ganhar sem esforço. Vivia tomado por pensamentos nebulosos e negativos, como se uma horda de espíritos ruins estivessem sempre lhe acompanhando, e percebia que aonde chegava as pessoas se afastavam, pois seu olhar e seu cheiro causavam mal-estar.


Nasceu numa favela, numa família de onze irmãos, sempre apanhava muito do padrasto, e um dia não agüentando mais apanhar e ver a mãe apanhar, fugiu de casa, saiu sem olhar para trás e nunca mais voltou. Todos os dias pensava em sua mãe, com um misto de raiva e pena, sentia saudade dela e de seus irmãos, o que será que teria acontecido com cada um? Será que o miserável do padrasto já teria morrido? Todos os dias essas questões povoavam seus pensamentos. Desde que fugiu de casa aos doze anos já tinha passado por muitas situações de risco, já tinha passado fome, já tinha cheirado muita cola, já tinha roubado, mas nunca tinha matado. Vivia como folha seca solta ao vento rolando de um lugar para outro de acordo com a força do vento. Fugir de casa aos doze anos, no começo da adolescência, tinha sido um rito de passagem muito doloroso para sua alma, que até o presente ainda causava dor e angústia, pois a dor da falta da mãe ainda lhe corroia a alma. Sabia o que era solidão, abandono, fome, frio, seu coração tinha secado, se enrijecido, se fechado para o mundo. Não sabia nada sobre amor, família, fraternidade e valores maiores que aquecem o coração e a alma. Sentia muita falta de viver esse lado bom da vida. Estava cansado de viver de esmolas, de resto de comida dos outros, de rejeição. Estava cansado demais da vida, sua vida tinha sido um erro, pensava ele. Vinha pensando em acabar de vez com seu sofrimento, todo dia pensava numa forma diferente de morrer. Nos últimos dias juntava-se aos outros homens que vivam na mesma condição que ele, que estavam sozinhos na rua e dormiam no asfalto, e bebiam tudo que conseguiam de bebida durante o dia, bebiam para esquecer a dor, a fome e o abandono. Não queria saber de Deus, não acreditava em nada. Agora só queria saber de dar fim ao seu sofrimento. Num certo domingo, depois de beber muito com o grupo que vivia ali na rua com ele, sentindo-se completamente bêbado, lembrou que queria acabar com sua vida, e aquele seria o momento, pois estava tão bêbado que não sentiria. Ficou olhando a rua e viu que vinham alguns carros, saiu em disparada em direção à rua e sentiu o baque, sentiu-se desfalecer. Quando acordou já estava no hospital, todo entubado, com soro, tinha sido um acidente sério, tinha quebrado as duas pernas, um braço, quebrado quatro costelas e tinha perdido muito sangue, seu quadro inspirava cuidados e ficaria vários dias internado. Olhou ao redor e viu um senhor que não conhecia. O senhor aproximou-se e falou sobre o acidente, ele contou que o homem que o tinha atropelado tinha fugido, ele vinha atrás, e viu tudo, parou, chamou a ambulância e acompanhou tudo. Ele era pastor e estava orando para ele se restabelecer.


“Não perca tempo comigo pastor, eu sou uma ovelha negra, perdida. Deus não olha para mim, sou uma causa perdida, aliás, deveria ter morrido, teria sido muito melhor”.


“Não diga isso meu filho, Deus nunca desiste de seus filhos, nunca um filho do Pai é causa perdida”.



E daquele momento em diante nascia uma forte amizade entre Régis e o pastor. Todos os dias eles oravam e conversavam sobre a Bíblia e sobre Deus, Régis começava a sentir-se diferente, a pensar diferente e sentir que alguém se importava com ele. No dia da alta o pastor esperava o médico terminar as recomendações e depois ajudou Régis a vestir a roupa que havia levado para ele, ainda estava fraco, mas em franca recuperação. O pastor Mendes o levou para sua casa por uns dias até ele se recuperar completamente. Uma nova vida se descortinava para Régis, pois o pastor ofereceu-lhe uma vaga de zelador da Igreja, ele teria onde morar e um salário, além de poder aumentar sua fé e ampliar seus conhecimentos sobre a Bíblia e a religião. Um momento muito novo em sua vida, ele teria que fazer uma escolha entre uma nova chance que a vida estava lhe dando ou voltar para a rua. Escolheu ser zelador e começou seu trabalho, começou a fazer muitas amizades, fazia seu trabalho com seriedade e todos o respeitavam. Tinha um respeito e um carinho especial pelo pastor Mendes, pois ele o tirara do fundo do poço e lhe dera uma chance de recomeçar sua vida. O acidente que aparentemente teria sido uma tragédia, o trouxe de volta à vida e o fez encontrar Deus.
Foi um recomeço em sua vida, um renascimento, talvez, antes estivesse morto, agora estava vivo de verdade, e aceitar Deus na sua vida e no seu coração tinha sido grandioso, agora sentia paz no seu coração. Sempre freqüentava os cultos e resolveu procurar sua família e também fazer um trabalho de evangelização junto àqueles que viviam na rua, seus antigos companheiros de rua e bebida. Queria ser útil e poder ajudar a outras pessoas. Em algumas folgas que tinha, já havia ido procurar sua família, ainda não tinha encontrado os seus, mas não desistiria. Voltou algumas vezes ao lugar que morava quando fugiu, sua família não estava mais lá, mas, através de alguns antigos moradores conseguiu chegar até sua mãe, que morava numa casa de família, trabalhava como doméstica. Foi um momento muito emocionante para Régis poder rever sua mãe quase vinte anos depois de ter fugido. Poder abraçá-la e pedir perdão foi um momento de profunda emoção. Como se sentia feliz podendo estar junto a sua mãe. A partir daquele momento eles sempre se viam, e aos poucos foi revendo alguns irmãos e irmãs, soube que três tinham morrido e o padrasto também. Teve a chance de viver a dádiva de amar a mãe e poder expressar o amor filial.



Começou um trabalho de evangelizar àqueles que viviam na rua sem perspectiva, no álcool e na droga, dormindo embaixo dos viadutos, nas esquinas, nos bancos das praças, no asfalto cru, como ele já dormira no passado. Régis foi um homem que saiu da sarjeta, da cama de asfalto e da miséria material e espiritual, e num encontro espiritual com Deus permitiu que Deus agisse em sua vida e transformou-se num agente social transformador, possibilitando que outras pessoas pudessem também viver a espiritualidade e tivessem uma nova chance como ele teve.



JANAINA ISMENIA DE MELO.
(fotos tirada da internet)

NAIARA.




Naiara saiu de uma prova de psicopatologia e caminhou até o banco para fazer um pagamento, chegou esbaforida do sol quente, cansada e com sede e ao se deparar com o tamanho da fila, ficou desanimada, além de estar com fome e com sede, pois era quase hora do almoço.

Pegou seu livro e conseguiu ler algumas páginas, mas o barulho dificultava sua concentração, resolveu parar de ler e observar as pessoas, pois como futura psicóloga, adorava aprimorar sua capacidade de observação. Observou a fisionomia das pessoas e pensou como as pessoas estavam demonstrando cansaço na fisionomia, mas não só o cansaço físico, um cansaço na alma, viu insatisfação, em algumas viu tristeza nos olhos, viu raiva, vários sentimentos que estão nos olhos e no corpo das pessoas, que muitas vezes nem elas mesmos se dão conta. O banco estava cheio, e o barulho a incomodava, pensou em como as pessoas estão ficando surdas, e cada vez falam mais alto, a humanidade está cada vez mais barulhenta, é impressionante a falta de percepção das pessoas. Ouvia alguns conversando e reclamando do banco, outro falando ao celular, outros olhando para o tempo, é incrível como sempre tem um espertinho querendo furar a fila, sempre tem uma desculpa esfarrapada, é muita cara de pau dessas pessoas, e sempre também tem uma barraqueira pra fazer barulho, sempre tem aqueles com uma pasta com trezentos pagamentos para fazer que demoram meia hora, acontece de tudo, é engraçado. Fila de banco é uma ótima oportunidade para ler, mas a única pessoa que estava com um livro visível ali era ela, ninguém aproveitando aquele tempo perdido na fila para ler, e pensou em como o brasileiro lê pouco, uma lástima, realmente, uma lástima. Já fazia mais de quarenta minutos que estava na fila, estava quase sentando no chão, de tão cansada, com dor nas pernas e na coluna, que desrespeito, podia ter pelo menos cadeiras para as pessoas sentarem. Começou a se concentrar na fila dos idosos, até eles reclamavam da demora, de alguém que passou na frente, alguns falavam da mocidade, outros dos netos, olhou a fisionomia daqueles idosos e viu a diferença entre cada um, uns mais descontraídos, outros ranzinzas, uns de bom humor, outros muito contraídos e amargurados. Olhar para aquelas pessoas já na maturidade, a fez refletir sobre a vida e sobre a maturidade, sobre a tolerância, sobre a importância de aprender com as lições da vida e chegar à maturidade feliz, de bem com a vida, com sabedoria, devia ser horrível chegar na velhice amargurado, infeliz, frustrado. Várias questões vieram à sua mente.
Um dos caixas fechou seu caixa e saiu, era hora de almoço e o horário dele tinha encerrado, vários reclamaram, outros xingaram, agora é que ia demorar mesmo, fiquei imaginando os outros dois caixas que restaram com uma crise de dor de barriga naquele momento, coitados, iam ser xingados até a terceira geração. Que profissão ingrata, não tem direito nem de fazer xixi, Deus me livre.
Sua vez chegou, foi atendida em três minutos. É mole ficar quase uma hora e meia na fila para ser atendida em três minutos??? Deu uma última olhada para a fila, e saiu do banco pensando na complexidade do ser humano, foi a pé para casa, umas oito quadras dali, foi refletindo na riqueza que foi para ela observar as pessoas ali, na enorme diferença entre cada ser, na complexidade da natureza humana, e como até fila de banco pode servir para aprender mais sobre a vida e o ser, aprendeu também a não atrasar mais pagamentos e também não ir com fome, pois estava passada de fome, hora de almoço é lá hora de ir para o banco.

JANAINA ISMENIA DE MELO
(foto tirada da internet)

sábado, 5 de dezembro de 2009

NIETZSCHE!!!!



Nietzsche é um filósofo, um músico, um crítico, um poeta, um homem de múltiplas dimensões do Ser!!!! Sua filosofia tem uma importância fundamental na história da filosofia contemporânea e influenciou Heidegger, Gadamer, Deleuze, Foucault e muitos outros. Tratou de temas polêmicos e profundos, como o eterno retorno, o niihilismo, a morte de Deus, o Super-homem, o Apolínio e o Dionisíaco, entres outros que estão na base do pensamento filosófico contemporâneo, e influenciou inclusive Freud e a Psicanálise. Nietzsche é fundamental para a história ocidental e para reflexões profundas no Ser de cada um que se permite esse desafio.
Nietzsche foi um profundo admirador da Tragédia grega, pois ela expressava de forma intensa os sentimentos humanos na sua forma mais verdadeira. Ele Admirava os filósofos pré-socráticos, principalmente Heráclito e Empédocles, e criticou duramente Sócrates por trazer para o âmbito da filosofia a razão acima de qualquer outra coisa, ele diz que a filosofia morreu com Sócrates, uma crítica dura que Niezsche fez embasado no seu pensamento de que a filosofia era um “pensamento trágico” – o Apolíneo e o Dionisíaco sempre em luta!!! Na “Genealogia da Moral” essa crítica é muito bem fundamentada por ele contra toda a história moral do ocidente desde Sócrates, justamente pelo sufocamento do trágico pela razão, onde nesse sufocamento perde-se o gênio criativo, a arte, a liberdade em nome da razão e da dominação pela religião, política e outras formas de poder. Daí Nietzsche falar da “Morte de Deus” e do “Super-homem”. Nietzsche sempre foi um profundo questionador da nossa indigência ontológica.




Janaina Ismenia de Melo.
foto tirada da internet.

MANADA???




Concordo com Adorno quando diz que estamos vivendo a “cultura do espetáculo”, a cultura do descartável, da superficialidade, da “manada” de consumistas sem consciência crítica por falta de formação e leitura, onde vamos parar????? Isso é uma questão urgente no nosso país, na nossa educação, nas nossas famílias. Eu como professora, educadora, me pergunto todos os dias como melhorar essa situação? Como professora espalho sementes de amor à leitura, de desenvolvimento do senso crítico, de ética e tudo o mais que eu posso passar para meus alunos, amigos, família. É um trabalho de cada um, como Ser, como cidadão, e até como forma de protesto a essa cultura capitalista podre, que quer mesmo é “manada”, pessoas que não pensem, não critiquem, não protestem, apenas consumam, comprem, tenham. O que importa na cultura que vivemos hoje é o ter, não o SER. Sejamos SERES PLENOS E CONSCIENTES!!!!!!!!!!!


Janaina Ismenia de Melo.
foto tirada da internet.

A IMPORTÂNCIA DOS AFETOS NA DINÂMICA FAMILIAR!!!





Este trabalho tem como tema a importância dos afetos na dinâmica familiar. Foi abordada a dialética dos afetos na formação psíquica do indivíduo e da família. A importância da família como local de ambivalências, mas, também, de construção do social e da subjetividade do indivíduo, mostrando a formação dos vínculos e da formação da linguagem, do simbólico e do imaginário para a construção do Ser enquanto ser de linguagem, ser social e ser de afetos. A importância das pulsões e do complexo de Édipo para a formação psíquica do sujeito e da família enquanto lugar de conflitos, desejos e afetos.
Desde o começo da civilização, o homem se organiza histórico-socialmente enquanto grupo, constituindo-se como família ao longo dos séculos. A família enquanto formação sócio-cultural adquiriu uma importância fundamental para a formação social e psíquica do homem. Como afirma a Antropologia, ela é um fenômeno universal, seja qual for a cultura ou país, em todo grupo humano, a família está presente, com suas mais diversas formações e hábitos culturais. Enquanto grupo social é um lugar de afetos, de sentimentos, de trocas e vínculos. A família tem uma importância crucial no desenvolvimento do ser humano, enquanto formação do ser e da personalidade.

Mesmo com todas as crises sociais contemporâneas, onde muitos valores e instituições estão sendo questionada, inclusive a família, ela ainda continua tendo sua importância social e psíquica. Continua sendo a base de formação do ser. Na contemporaneidade ocorrem muitas mudanças de valores, de paradigmas, de convenções sociais, muitas mudanças no mundo contemporâneo que a coloca em situações de desafios e mudanças, mas, sem deixar seu lugar de estruturação social e psíquica.
Família sempre foi amplo campo de estudo com profundas discussões no campo teórico, grandes personagens da história do mundo das idéias, no tocante a psicologia demonstraram sua preocupação desenvolvendo um conjunto de idéias que nos permitiu ser orientados teoricamente nesta pesquisa. A preocupação com a mesma nos sugere que é neste local, onde acontecerão os principais aspectos fundamentais na formação do sujeito. Está clara a importância da primeira idade da criança e seu desenvolvimento, onde uma série de acontecimentos terá a família como suporte e como idealizadora, pensar assim o envolvimento dos atores que a compõem na formação individual, lançando a perspectiva dialética na relação familiar. (BOTTURA JUNIOR, 1994, pág. 19) “Já foi provada, cientificamente, a importância dos primeiros anos de vida do homem no desenvolvimento de sua personalidade.” Vários autores se referem de maneira pontual que o individuo terá sua formação no apoio e no campo familiar. Será a primeira célula socializadora, onde teremos a formação das regras, da ordem da castração, da limitação, mas também, e, não menos importante, o campo dos afetos onde este será a base da nossa fundamentação.

Somos seres racionais afetivos, temos todos nós um sistema neuro-funcional e neurofisiológico apto, que nos possibilita sermos seres de afetos. Nunca foi fácil transcorrer a respeito dos afetos, sabemos que eles existem e temos a certeza na expressão dos mesmos, porém não é fácil sua delimitação.
A família é um lugar de múltiplos afetos, podemos mencionar o amor, carinho, amparo, o ódio, a inveja, os ciúmes, e todos esses afetos e sentimentos colaboram para a estruturação íntima de cada membro da família e da sociedade. Estes múltiplos afetos são fundamentais para o enriquecimento de cada ser e para a dinâmica familiar, onde tudo é mutável e intenso, nada é estático nas relações humanas, muito menos na família. A formação dos vínculos se dá nessa dinamicidade de afetos e sentimentos, sendo de fundamental importância para a formação da personalidade e para a riqueza psíquica do indivíduo a interação destes afetos, nessa dialética de sentimentos, os papéis e funções dentro da relação familiar são muito importantes, pois possibilita ao indivíduo fazer parte ativa da sociedade enquanto cidadão. Neste contexto de múltiplos afetos, a família enfrenta suas crises, tanto internas, quanto sociais. Sendo de fundamental importância levar em consideração a participação da mídia neste processo de mudanças de valores e regras sociais, pois como diz Adorno, um filósofo contemporâneo, vivemos no mundo do espetáculo, onde a mídia tem um papel fundamental de “imposição” de valores que são impostos pelo neoliberalismo e pela ideologia do consumismo em que vivemos, onde tudo vira mercadoria, onde o que impera é a ordem do consumir, inclusive valores e novos padrões sociais e processos de subjetivação.
Talvez a nossa compreensão no tocante aos afetos seja de forma incoerente, determinando a qualidade dos afetos em bons e maus, agindo assim de forma discriminada. A família tem uma participação importante, pois é onde incorporamos de forma subjetiva a qualidade destes afetos, muito do que se fala no cotidiano familiar sobre os afetos, faz pensar que a família é campo de um único afeto, o que não é verdade, pois, talvez aquele que melhor nos expressa enquanto sujeito é o amor, (BARROS, 2003), este autor refere-se ao amor da seguinte maneira:



“O amor deve prevalecer, porque ele faz do indivíduo humano um ser humano. Identifica-nos e, assim, gera em todos nós solidariedade entre todos nós, que é a única força capaz de construir – dignamente – a humanidade em todo o agrupamento humano, a partir de sua grei inicial: a família.” (pág. 149)


Podemos perceber a importância do amor na relação familiar pelas obras do pediatra e psicanalista D. W. Winnicott (1886), quando elabora seus ensaios, viabilizando toda uma explicação sobre a ligação que está na relação mãe-bebê, ele concebe que o afeto está ligado desde o início da gestação como também no ato da amamentação. Neste ato, a mãe age como peça importante na relação, criando um vínculo de afeto com a criança, mesmo sendo essa criança ainda um bebê e não entenda ainda a lógica da relação. Observe que isso é uma consideração fantástica, pois é propor que uma criança para além da relação lógica causal deste ato, concebe deste então o afeto da mãe, teremos assim uma ligação promovida pelo afeto. Winnicott fala ainda que (2001, pág.3) “Muita coisa acontece no primeiro ano de vida da criança: o desenvolvimento emocional tem lugar desde o princípio; num estudo da evolução da personalidade”, sendo assim uma questão fundamental para o indivíduo é que a família é parte integrante do processo de formação da identidade. A formação da identidade enquanto ser humano, ser social, ser psíquico, ou seja, a identidade em todas as suas instâncias, passa necessariamente pela família, seja qual tipo de configuração familiar o indivíduo vivencie. Uma questão importante é desmistificar a família só como lugar de amor, a família enquanto grupo social é o local dos mais diversos afetos e desejos, pulsões e fantasias, necessidades e funções. É nessa ambivalência de afetos e sentimentos que se estrutura a linguagem, o imaginário e o simbólico no ser humano, instâncias psíquicas fundamentais para o desenvolvimento do sujeito enquanto ser psicossocial. É importante não esquecer o lugar das diferenças dentro da família, pois só na diferença é possível estabelecer identidades e vivências múltiplas e a formação da subjetividade de cada membro familiar.
O que a criança mais recebe durante seu desenvolvimento é afeto, ele está na relação, nos gestos, nos atos, no comportamento como um todo, tudo que a criança recebe como via dos afetos e que vai compor seu desenvolvimento emocional. Também a própria criança requer muito dos pais essa dependência emocional. (WINNICOTT, 2001) “A integração parece estar ligada às experiências emocionais ou afetivas de caráter mais definido, como a raiva ou a excitação provocada pelo oferecimento de comida.”
Na ótica psicanalista no ambiente familiar o afeto pode ser pensado em duas constituintes do sujeito importantes para psicanálise. Temos em nós duas pulsões importantes a de vida (Eros) e a de morte (Thanatos), onde no individuo se reconhece essa pulsão na forma de afetos, onde o amor e ódio são as duas faces da mesma moeda, quebrando um paradigma no senso comum de dualidade entre o amor e o ódio, (GROENINGA, 2003, pág. 129) “Eles nos aparecem sob a forma de afetos, amorosos e hostis. A afetividade é, portanto originária e ambivalente,” essa pulsão também é ponto primordial da elaboração teórica da psicanálise para enunciar a constituição psíquica, assim o afeto aparece como o canal para expressão dessas pulsões, e como já tratado, a família está no encargo dessa dinâmica para elaboração subjetiva, onde cada um tem sua própria experiência a partir da vivência dos afetos. A outra parte importante originada do seio familiar é conhecida como o Complexo de Édipo. Por meio desse complexo edipiano vivenciaremos os conflitos da primeira infância, e desenvolvemos certa maturação psíquica. Remetemos novamente a Groeninga que diz que:

“Retornando à descrição do que Freud chamou de ambivalência afetiva originária e a vivência edípica que vai imprimir aos afetos uma direção, retomamos que são naturais os desejos amorosos e hostis que a criança tem em relação aos pais. Tais sentimentos são alternados de um genitor para o outro, conforme o ciclo vital,” (2003, pág. 131)


Os afetos têm uma importância crucial para a estruturação psíquica, familiar e social, está presente no Édipo e nas pulsões, na formação da família como constituição afetiva, ambivalente ou não. É importante lembrar a dualidade dos afetos como presente e funcional para elaboração do sujeito em todas as suas instâncias psíquicas.





BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BARROS, Sérgio Resende de. Direitos humanos da família:: dos fundamentais aos operacionais. In:. Direito de família e psicanálise: rumo a uma nova epistemologia. Rio de Janeiro: Imago, 2003. p. 143-154.

BOTTURA JUNIOR, Wimer. A paternidade faz a diferença. São Paulo: Editora Gente, 1994.

WINNICOTT, D.W. . A família e o desenvolvimento individual. 2ª São Paulo: Martins Fontes, 2001.


________________Tudo começa em casa. 2ª São Paulo: Martins Fontes, 1999.


GROENINGA, Giselle Câmara. Família: um caleidoscópio de relações. In Direito de família e psicanálise: rumo a uma nova epistemologia. Rio de Janeiro: Imago, 2003. p. 125-142


JANAINA ISMENIA DE MELO
FOTOS TIRADA DA INTERNET.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

A IMPORTÂNCIA DE PIERRE JANET NA PSICOTERAPIA SOMÁTICA.

O que é Psicoterapia Somática? Psyché e terapéia vem ambos do grego que significam respectivamente alma e cuidado, portanto cuidado com a alma. A psique abrange a nossa vida afetiva, cognitiva, imaginativa e intelectual, além de espiritual também. As psicoterapias corporais tratam dos mecanismos corporais que se encontram envolvidas nas dinâmicas das repressões e das defesas contra as emoções, trabalhando o corpo energético, emocional e postural como lugar da história do sujeito. Um dos objetivos fundamentais é reintegrar o sentir (endoderma), o pensar (ectoderma) e o fazer (mesoderma) desde a profundidade do ser em contato com a realidade externa, consigo mesmo e com os outros, restabelecendo a sexualidade natural, assim também como a dimensão espiritual do Ser.
Freud era profundamente criterioso em observar e escrever. Janet influenciou profundamente Freud. Tanto Pierre Janet como Charcot foram fundamentais na formação dele. Ele fora estudar com Charcot em Paris e absorveu os estudos de Charcot sobre histeria, sobre hipnose e sobre todo o campo de estudo e pesquisa que Charcot realizava naquele momento.
Uma pergunta se faz necessária no campo da psicoterapia: “Qual o desejo que está por trás da emoção”? e é justamente esse desejo quando entra em conflito com as emoções que gera todas as tensões corporais que vão se instalar no corpo e que o terapeuta através de várias técnicas vai trabalhar o cliente para trazê-lo de volta a harmonia, fundamental para o equilíbrio do indivíduo. Reich muitos anos depois vai desenvolver toda sua teoria a partir de tudo o que ele estudou de Freud, ele vai além de Freud e vai descobrir como as repressões formam as couraças. William James vai estudar os princípios ideomotor, ou seja, idéia-movimento-sentimento.
Segundo Reich, o terapeuta tem que sair da 1ª camada (máscara), entrar na 2ª camada, trabalhar as negatividades e resistência, as dificuldades e entrar na essência, que é fundamentalmente o amor.
A partir da análise psicológica de Pierre janet foi que surgiu a Psicanálise de Freud. Muitos conceitos chaves da psicologia individual e analítica foram inspiradas por Janet. Ele foi o primeiro psicoterapeuta corporal e predecessor de Reich. Janet estudou a relação entre respiração e vida emocional, e junto com Richet realizou detalhadas investigações sobre padrões respiratórios na neurose. Janet já naquela época trabalhou com massagem e reeducação do movimento. O importante trabalho dele foi relativamente negligenciado até a sua redescoberta pelas pesquisas modernas sobre síndrome de estresse pós-traumático, em que os insights são considerados de importância fundamental. Janet com seus 5.000 estudos clínicos fundamentou sua principal obra sobre a histeria, “O automatismo psicológico”, o qual foi sua tese de doutorado na Sorbonne. Além de ele ter sido o principal predecessor de Freud, influenciou Jung, Adler e Reich.
Janet já trabalhava com a importância central do distúrbio da respiração na neurose, neurose vasomotora, massagem, consciência visceral, e neurose gastrointestinal (antecipando o trabalho de Gerda Boysen com a psicoperistalse), canais de contato, consciência muscular e sensação sinestésica, movimento e intencionalidade, choque pós-traumático, a presentificação – o que Janet chamou de estar em contato consigo mesmo e com os outros na aqui e agora, sem ficar travado nas ansiedades do passado ou nas dúvidas do futuro.
Concluímos assim a fundamental importância de Pierre Janet não só na descoberta da psicanálise Freudiana como em todos os estudos posteriores da psicoterapia corporal.

JANAINA ISMENIA DE MELO.

A IMPORTÂNCIA DA PSICANÁLISE E DE FREUD NA CONTEMPORANEIDADE.





Desde Sócrates, Platão e toda a história da filosofia vêm sendo pensado a questão da “psyché” – como a importância da alma na questão do Ser e do cuidado com a alma para uma vida feliz. Já falava Epicuro sobre a Ataraxia, aponia e autarquéia, ou seja, imperturbabilidade da alma, ausência de dor física e auto-domínio. Freud neste contexto é de suma importância na contemporaneidade com todo o edifício teórico da psicanálise para o tratamento das questões que estão na ordem do Ser.


Freud enquanto clinicava, pensava sobre a psiquiatria e a psicanálise e desenvolve através do seu estudo rigoroso toda a teoria psicanalítica, sendo a vida inteira um profundo pesquisador. Ele aprendeu com Breur e Charcot o hipnotismo e método catártico. Freud já falava em 1900 que todo e qualquer ato da pessoa tem um significado, nada é por acaso, nada é desvinculado de motivos interiores do ser. Ele estudou toda a importância dos sonhos como material rico do inconsciente e, portanto, rico material para trabalhar clinicamente. Ele fala que todo sonho possui significado, o sonho é uma forma disfarçada de realização do desejo, que as composições do sonho são conteúdo latente e conteúdo manifesto, a formação dos sonhos são restos diurnos, resto diurnos recalcados, estímulos noturnos e desejos inconscientes. Os sonhos são sempre uma forma disfarçada de realizar os sonhos sem censura, o sonho tem a função principal de manter a pessoa dormindo e também porque dá prazer (na visão freudiana). Já os pesadelos são sonhos de angústia. Quando ele fala conteúdo latente, são os conteúdos inconscientes, os desejos reprimidos. Já o conteúdo manifesto é o que a pessoa conta que sonhou, é o sonho propriamente dito. Os desejos inconscientes são a única forma psíquica de formar um sonho.


Segundo Freud, nada se passa sem que se tenha registro psíquico no consciente, e vai depois para o inconsciente. Na elaboração onírica ocorrem vários processos, são eles: condensação – que é juntar mais de uma representação psíquica no mesmo sonho; deslocamento – é o deslocamento de afeto, de energia psíquica, de carinho para poder suportar o conteúdo; figuração – que transforma a idéia e afeto em imagem; elaboração secundária que faz com que o sonho tenha começo, meio e fim, transforma o sonho em bem elaborado para se poder entendê-lo. Freud ainda fala dos sonhos de angústia, aparentemente não se encaixarem na realização do desejo. Desejo de auto-punição, os sonhos de angústia servem para nos punir e serve também aos desejos sexuais e agressivos. Algumas vezes o trabalho de censura é muito forte no sonho, e causa angústia, punição e sentimento de culpa, esses sonhos geralmente são gerados a partir do superego. Todo sonho tem mais de um motivo para existir, realiza mais de um desejo, e têm mais de uma interpretação, já que ele está realizando vários desejos.


Na concepção do aparelho psíquico Freud fala na 1ª Tópica ( Inconsciente, pré-consciente-consciente), em 1900, na 2ª Tópica ( Id, ego e superego) em 1923, no processo primário (energia livre), no processo secundário e no princípio do prazer, que é o princípio que tenta a todo custo evitar o desprazer. O inconsciente é estrutural, sempre foi e sempre vai ser inconsciente, desde sempre e para sempre. O pré-consciente-consciente é um constante fluxo de informações.


Segundo Freud, nunca se tem acesso às pulsões, só se têm acesso as representações. Pulsões são representações de movimentos de corpo-energia somáticas. O que vai para o consciente é a representação da representação. O pré-consciente-consciente são representações das pulsões.


O objetivo da psicanálise é re-significar a vida. Daí a importância de Freud com a psicanálise, pois a partir dele houve todo um intenso desdobramento de conceitos e técnicas psicológicas que vêem ajudando o homem a encontrar respostas mais significativas e plenas para sua vida, através não só da psicanálise, mas também da psicoterapia somática.

JANAINA ISMENIA DE MELO.
FOTO TIRADA DA INTERNET.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

RESENHA SOBRE TRÊS TEXTOS DE PSICOLOGIA E CONTEMPORANEIDADE.


Este trabalho é uma resenha de três textos sobre psicologia, a saber, Modernidade e produção de subjetividade: breve percurso histórico, de Deise Mancebo. O segundo texto sendo A Psicologia como reflexão sobre as práticas humanas: da adaptação à errância, de Márcia Moraes, e o terceiro sendo Indivíduo e Psicologia: gênese e desenvolvimento atuais, de Deise Mancebo. O objetivo desta resenha é uma articulação entre as discussões que estão nos três textos de uma forma crítica e reflexiva.

Historicamente o conhecimento faz parte da formação da humanidade como civilização e como capacidade de pensamento e construção histórica. Desde a filosofia antiga, onde seu primeiro momento o que interessanva era entender o cosmos, o universo, a physis, sendo portanto uma cosmologia, este período abarca o pensamento e especulações dos grandes pensadores Pré-Socráticos. Com Sócrates acontece a primeira grande virada de interesse do estudo na filosofia, o que importa agora não é só o cosmos, o que está fora, mas agora o que passa a ser importante é o homem, e a grande pergunta portanto é, o que é o homem? Entramos no momento crucial de início da construção filosófica-social do homem como Estatuto Ontológico. Com o nascimento do Cristianismo uma nova mudança de foco vai acontecer, agora o que importa é a Fé, a Igreja vai dominar durante séculos, e isso vai ter repercussões profundas na formação social do homem. Com Descartes e o início da modernidade entra em questão a razão, a grande questão da Idade Moderna é a Razão. Descartes vai operar uma mudança de paradigma, vai inverter a ordem da importância do objeto de estudo, se desde Platão até o fim da Idade media o que importava era o objeto do conhecimento e não o sujeito, Descartes vai fazer essa virada epistemológica trazendo o sujeito para o primeiro plano de importância, e desde então a formação desde sujeito vem sofrendo inúmeras mudanças em seu percursso histórico-social. Já na Idade Contemporânea a grande questão é a crise da razão, e essa crise vai trazer imensas repercussões para o campo da psicologia e das ciências sociais.
Com a Revolução Industrial, as questões políticos-socias e o nascimento da Psicologia como ciência autônoma, separada da filosofia, passa a ter seu Estatuto Epistemológico próprio. Com todas estas mudanças, a formação desse sujeito passou por profundas transformações, onde a formação da subjetividade tem uma importância fundamental. É interessante pontuar que desde o Renascimento, passando pelo o Iluminismo e chegando até os dias atuais, uma das questões centrais vai ser essa relação do público com o privado e das questões que estão diretamente ligadas à subjetividade, não esquecendo que a ética é parte fundamental deste processo.
Nos três textos um fio de reflexão que perpassa os três é a problematização do indivíduo na sua construção histórica, social e psicológica. A formação do sujeito e suas complexidades têm sido um tema de profundo interesse de pesquisa tanto nas ciências sociais como na psicologia, na filosofia e na Antropologia. É interessante ver o modo de construção histórica do sujeito e sua formaçãpo de identidade, sua forma de se relacionar com o mundo o com os outros, e como na contemporaneidade vem sendo criado uma cultura do individualismo, do narcisismo e da consumismo.
O texto de Márcia Moraes problematiza uma questão importante para a psicologia que é a questão do erro. No início do texto ela já faz uma questionamento fundamental: por que o problema do erro é tão fundamental para a psicologia? E como a psicologia trata o erro? São questões epistemológicas importantes de serem pensadas para uma prática psicológica. A autora traz alguns fios condutores para essa discussão. O primeiro deles é considerar o erro o inverso do acerto, considerando suas consequências. O segundo considera o erro como positivo, como campo propício de invenções e possibilidades de criação, nesse campo é importante a contribuição de Canguilhem com seu estudo sobre O Normal e o Patológico, e as contribuições do pensamento de Bruno Latour, aliado à filosofia de Deleuze, Guattari e Foucault. No texto, a autora mostra a relevância que Foucault faz sobre a história da psicologia do século XX:

Foucault salienta que até metade do século XX a história da psicologia é a história paradoxal das contradições entre o projeto de reconhecer no homem as mesmas leis que regem a natureza os postulados que norteiam a construção da psicologia como ciência objetiva. Em outras palavras, com o intuito de mostrar que o homem era uma extensão da natureza, a psicologia ergueu-se a partir dos postulados de rigor, objetividade, neutralidade. (Foucault, 1990).


Foucault no seu pensamento nos traz questões que exigem reflexões, pois são instigantes e provocativas, além de serem coerentes com o contexto atual. O pensamento de Foucault tem três fases importantes, a saber, a Arqueologia do Saber, a Genealogia do Poder e a Estética da Existência, formando uma relação entre saber, poder e verdade. Questões como a sociedade de controle, as questões de poder, de dominação, do disciplinamento, do biopoder, o controle do corpo e dos desejos numa sociedade utilitarismta e controladora, entre outras. Para Foucault a psicologia contemporânea é uma forma de análise do patológico, do anormal, dos conflitos e das contradições. A forma que o homem encontrou de se adaptar a tudo isto foi através da contradição, dos desajustes, das resistências, das errâncias e da criatividade, segundo a autora. Retomando a questão do erro, ele tem seu lado negativo, mas também, tem seu lado positivo de criação e possibilidade de novas realidades, de devir. A errância traz em si a questão da potência, potência de ultrapassar limites e criar novas possibilidades como uma rede de coisas que vão se tocando e se complexificando, criando a todo momento um novo devir, uma nova realidade. Segundo a autora, a questão da rede que Bruno Latour coloca é no sentido de rede como fluxos, movimentos, alianças, e não como rigidez. Atuar em rede é atuar em conexões. A teoria de rede são pensadas como entrelaçamento de saberes, com infinitas possibilidades de conexões de saberes, onde há relações de força, em linhas de fuga, com flexibilidade, tensões e tudo o que possa acontecer. Os saberes vão se rearranjando de várias formas, com tensão ou não, e com isso a riqueza dessas construções e de tudo o que está envolvido é muito maior.

Foucault (1983, 1986) é uma referência central nesse campo investigativo, ao preocupar-se com a identificação e análise do processo pelo qual se dá a tomada do poder sobre os corpos, na sociedade ocidental. Seus trabalhos procurarão cobrir a trajetória das diversas tecnologias de poder e o controle social produzido pelos dispositivos disciplinares e pela normalização técnico-científica, de modo a apresentar-nos a modernidade, criticamente, como uma era de domesticação dos corpos. Sob o ideário tecnocrático-disciplinar, “a administração dos comportamentos individuais, alcançável mediante uma visibilidade, conhecimento e controle mais planejado dos comportamentos, ganha espaço no tecido social, de modo que as instituições educacionais, corretivas, de saúde, de lazer passam a participar dessa agenda, assumindo funções diagnósticas, disciplinares e preventivas” (Mancebo, 1999-b, p. 56).

No texto de Deise Mancebo, Individuo e Psicologia: Gênese e desenvolvimento atuais, A autora pretende neste texto fazer uma discussão sobre o conceito de indivíduo e algumas caracterísitcas, como o seu retraimento sobre si mesmo, a psicologia como um saber disciplinar e normatizadora que privilegia a vida psíquica privada em detrimento da vida coletiva. O conceito de indivíduo é uma construção histórico-social. Na modernidade Descartes Obviamente que com o Cógito Cartesiano e seu dualismo psicofísico de mente-corpo, também vai gerar discussões e construções teóricas dualistas e dicotomicas, como a modernidade produziu esse eu? Criando uma representação do sujeito (ou indivíduo, como chama a autora) na sua forma mais íntima individualizada. A autora nos traz dois sentido de expressão de indivíduo segundo Dumont:


(1)O sujeito empírico da palavra, do pensamento, da vontade, amostra indivisível da espécie humana, tal como o observador encontra em todas as sociedades; e (2) o sujeito moral, independente, autônomo, e assim assencialmente não social, tal como se encontra, sobretudo, em nossa ideologia moderna do homem e da ssociedade. (Dumont, 1985. P. 29)


O texto fala das novas abordagens da psicologia social, mostrando qual perspectiva ela quer focar nessa discussão. A partir das críticas feitas ao positivismo, a psicologia passa por mudanças e reformulações. O texto já aponta para a crise vivida em relação à psicologia social americana, mostrando a necessidade da psicologia social latino-americana ter um maior enraizamento nos problemas que são próprios de sua realidade, deixando de lado a dominação americana, e criando seus próprios caminhos, tanto científicos, como teóricos e psicológicos. Nesta perspectiva, a autora nos mostra a importância dos aportes teóricos que fizeram parte desse movimento, como o materialismo dialético, e a contribuição de importantes pesquisadores como Leontiev, Luria e Vigotsky. Houve a criação da Alapso (Associação Latino-Americana de Psicologia Social, da qual o Brasil fez parte por um tempo, e depois rompendo e criando sua própria associação, a Abrapso (Associação Brasileira de Psicologia Social), criando desta forma uma psicologia social brasielira voltada para os interesses das classes mais desfavorecidas, voltando sua atuação para a população pobre e suas demandas, para a realidade brasileira como ela se apresenta, e não através da imposição americana. É fundamental não esquecer que a construção deste caminho teórico social e subjetivo não se faz desvinculado da realidade em que ela se auto-gera. Como a autora coloca no texto que a realidade é uma construção coletiva, ou seja, tudo está interligado e interagindo o tempo inteiro, lembro aqui do conceito de rede, onde tudo está em conexão o tempo inteiro criando novas realidades que vão se modificando o tempo inteiro, num devir constante. Neste processo de constução social a subjetividade está presente o tempo inteiro, e não apenas a objetividade que os positivistas exigem em um processo científico. É importante não esquecer que mesmo neste processo subjetivo, não exclui a normatização e seus mecanismos de controle e biopoder.
A autora vai trazer a individualização deste sujeito em alguns graus diferentes, mostrando o Individualismo Liberal, o Racionalismo Administrativo, Tecnocrático e Disciplinar, o Individualismo e Coletivismo Românticos. O Individualismo Liberal, formulado por John Locke, um filósofo contratualista, ele sustenta a tese dos direitos naturais do indivíduo, e esses direitos tem que ser defendidos por um Estado, ou seja, ao estado cabe a mediação entre as relações entre os indivíduos para não haver violação das leis entre eles, e quando houver a violação, o próprio Estado passa a intervir. O Racionalismo Administrativo, Tecnocrático e Disciplinar, se apóia nas idéias liberais mas, exige mais eficiência e utilidade. O Utilitarismo já traz em si questões de poder e controle, as funções disciplinares e preventivas, práticas de normatização do indivíduo para ser mais útil ao processo de exploração do mercado de trabalho, que vem desde o liberalismo até o neoliberalismo com suas consequências da exploração do homem em vários níveis e com várias consequências. Já na questão do Individualismo e o Coletivismo Romântico, no pensamento romântico alemão se dá como crítica ao liberalismo e ao individualismo, sendo uma proposta de resgate dos valores autênticos, éticos, do retorno ds relações espontâneas entre os homens, do retorno à vida coletiva e individual com ênfase na potência de cada um e do todo.
Os três textos nos possibilitaram pensar várias questões importantes para a psicologia, possibilitando reflexões que enriquecem essa discussão, procurando ampliar os horizontes de entendimento de toda essa formação do sujeito e do processo de subjetivação, da construção do social e dessas inter-relações. Possibilitando um mergulho mais aprofundado nestas temáticas e uma melhor formação como psicólogo e como Ser.

JANAINA ISMENIA DE MELO.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

A IMORTALIDADE DA ALMA NO FÉDON DE PLATÃO.




Platão ao longo de sua vida convivera com diversas figuras do cenário político-cultural ateniense do (século V a. C.), Dada sua origem nobre pode compartilhar em sua juventude tanto da companhia de Crítias e Cármides (dois dos Trinta Tiranos). Há relatos de que conversava com Crátilo também na juventude, recebendo deste a influência do pensamento heraclítico. Entretanto, ao se tratar de Platão a sua relação mais próxima é com o mestre Sócrates.



Sócrates foi acusado de corromper a juventude e criar novos deuses para a cidade (difundindo idéias contrárias à religião tradicional), contudo, isso não foi empecilho para Platão deixar de relatar e analisar as teorias socráticas. Em suas obras a figura central é Sócrates. A injustiça cometida ao seu mestre dá o tom de algumas de suas obras, especificamente a do período inicial de sua produção literária conhecida como período socrático.


As noções de alma e corpo, morte e imortalidade estão presentes em quase todos os pensadores que lançaram as bases da nossa civilização ocidental. Elas entraram em nosso cotidiano por causa da fusão dessa tradição com a religião cristã. Mas ao investigarmos a origem dessas noções deparamos com a elaboração conceitual iniciada por Platão em seus diálogos. É no escopo dos textos platônicos que encontramos uma depuração de algumas teses que advém das doutrinas religiosas, principalmente o Orfismo e Pitagorismo, que mescla elementos filosófico-religiosos. O pensamento órfico influencia todo o pensamento sobre a alma posterior.


Desde o antigo mundo Grego até nossos dias permanece o desafio em busca de respostas diante da questão sobre a existência ou não da finitude da alma humana e a infinitude do Universo e da alma do homem descrita no Fédon, Diálogo de Platão (escrito por volta de 335/388 a.C.), sabe-se que o diálogo se baseia em fato real: o dia da morte de Sócrates, o que nos faz vislumbrar um tom enigmático.


Platão nos leva por uma via onde o fio condutor tem suas raízes no pensamento pré-socrático, a partir da teoria dos contrários, passando por um argumento filosófico e religioso, a reminiscência, já tratada pelos Pitagóricos e Órficos até chegar a sua Teoria das Formas, em análise aos ditos de Heráclito, Parmênides e Anaxágoras. O estudo dos argumentos sobre a existência da alma racional e imortal, descrita como o estudo do caminho para o encontro com o Bem em si, ou Dialética que para Platão é a técnica da investigação conjunta, ou seja, feita por mais de um personagem, que consiste em compor e decompor idéias, conduzindo os participantes a reunir as idéias dispersas numa idéia única – a Idéia do Bem em si.


Para Platão o uso da Dialética é o que qualifica o Filósofo como sendo aquele que busca a Verdade em si. O Filósofo é aquele que exercita a Dialética; é aquele que vai a busca da Verdade que está no Uno. Do múltiplo ao Uno, sempre. No Fédon a dialética aparece muito sutilmente na busca argumentativa que passa pela teoria dos contrários, pela teoria da reminiscência, porém somente através da dialética é que se dá a transposição do abismo que separa o sensível do inteligível, ou seja, a Dialética define o jogo do logos como possibilidade de refletir o mundo das Formas. É através do exercício Dialético, de ascese para o conhecimento, que está inserida a questão da vida e da morte no Fédon.


Platão através do mundo das formas justifica a existência do mundo das coisas sensíveis. O mundo sensível, acessado pelos sentidos e o mundo inteligível, concebido mentalmente. Para Platão a alma parece freqüentar os dois mundos. Quando está num corpo, pertence ao mundo sensível. Quando sai do corpo, na morte, habita o lugar daquilo que nunca se corrompe. Possui assim uma natureza de permanência e movimento; um ser sendo o que é. Esta dupla condição será explorada no Fédon, na busca da prova da existência da alma e sua condição e similaridade com tudo aquilo que nunca se transforma, e que lhe dá uma condição de divindade, pois, assim, e em comparação, tem os mesmos predicados que teria a Forma, bem como, mesmo sendo similar à Forma que é imutável é, em si, o próprio movimento.


A Teoria das Formas é o argumento que, sempre em graus variáveis, aparece na maioria das obras de Platão e, naturalmente, no Fédon, cujo subtítulo é o Da Alma. Pois, é neste diálogo que o filósofo compara e argumenta sobre as características da Forma e a sua similaridade com a Alma de modo mais complexo.


Os argumentos acerca da natureza da alma e sua existência, demonstrados através da fala de Sócrates, num momento em que estava preste a deixar o seu corpo é conduzido de modo a esclarecer porque a alma aceita o corpo, mesmo que por um determinado tempo; visto que o corpo não é da natureza da alma, sendo esta incorruptível enquanto o corpo está sujeito à mutação e transformação. O fundamento da metafísica platônica é fortalecido através desta capacidade da alma de habitar dois mundos, o sensível e o supra-sensível, demonstrando a sustentação da Teoria das Formas ou das Idéias. A Teoria das Formas demonstra conceitualmente o mundo inteligível, e faz deste a razão de ser do que é sensível. A alma representa, na teoria, o problema que se resume: sendo a alma eterna e racional é, igualmente, prova maior de um processo, pois é o próprio movimento.


A Teoria dos Opostos, ou seja, Teoria dos Contrários Excludentes pode ser considerada como o primeiro argumento no caminho da prova de que a alma é anterior a vida humana e que possui o dom da imortalidade, sobrevivendo a destruição do corpo. A este argumento segue-se o argumento da reminiscência, ou anamnesis, por fim vem o terceiro argumento que é o da semelhança entre a Alma e as Idéias. Este argumento visa provar que a Alma não só preexiste ao corpo (tese que Sócrates conseguiu fazer vingar com o 2º argumento), mas também sobrevive a este depois da sua morte, já que os seus interlocutores: Símias e Cebes, levantaram dúvidas quanto a esta questão, afirmando que a Alma dissipar-se-ia, provavelmente, depois da morte do corpo. Sócrates começa por perguntar quais são as coisas passíveis de se dissiparem, e quais aquelas em que nós tememos que isso acontecesse, sempre, obviamente, com o objetivo de provar que a Alma não se dissipa.


O Filósofo prossegue depois a dividir os seres em duas classes: os compostos, que tem mais probabilidade em dissiparem-se nas substâncias que os compõem, e que são mutáveis; e os simples, que sendo compostos por apenas um elemento, são menos susceptíveis de se dissolverem, já que estão reduzidos à sua natureza mais simples, estando isentos de sofrer tal processo, e que são imutáveis, portanto, Sócrates tendo conseguido a concordância dos seus pares neste assunto, avança para classificar a “realidade em si” ou seja, o mundo das Formas/Idéias, chegando à conclusão que este é imutável e “Idêntico em si”, já que, como se provou no 2º argumento (da anamnesis), as Idéias de Igual, Belo, são universais (no plano racional, não no sensível).


Portanto, se o mundo das Idéias é imutável, a sua natureza é simples, donde podemos deduzir que: os seres simples, não só são imutáveis, impassíveis de se decomporem, mas também são invisíveis, já que as Idéias não se vêem, recordam-se, e também perfeitos, porque as Idéias o são e estas são seres simples (não se decompõem e são invisíveis). Provado também este ponto, Sócrates prossegue para concluir que tudo aquilo que é sensível é imperfeito, logo composto, já que é passível de mudança e de transformação.


O argumento sobre as causas da geração e corrupção, que entendemos está dividido em duas vias argumentativas: a que trata da questão da participação e a que trata, em maior profundidade, da própria teoria das Formas.


Provar a existência de uma alma imortal, não prova a racionalidade da alma, ou seja, se esta alma imortal é individual, diz apenas que a morte substitui a vida e, a vida substitui a morte. Platão tenta provar no diálogo, que a alma seria um ser imortal, detentor de inteligência e movimento e esta afirmação: ser a alma imortal, é que dá a Sócrates no Fédon conforto no momento da morte, pois, lhe é acenado pelo logos, a possibilidade de uma existência bem aventurada no pós-vida. Entretanto, esta disponibilidade será apenas para a alma que, até o fim do tempo do corpo, foi pura e temperante e que persistiu no caminho da Virtude e da Bondade, o que para Sócrates, é a prática da filosofia. A alma que buscou a contemplação da Virtude em si. Este argumento vem após uma narrativa introdutória que levou o leitor ao cárcere onde está Sócrates e abre uma série de questões envolvendo a perspectiva da morte e as conseqüências do pós-morte.


No Fédon, Platão através de Sócrates tece argumentos em um debate cujo objetivo é levar os ouvintes a aceitar como possível o argumento que afirma ser a alma um ente imortal e que a mesma permanece racional após a extinção da dualidade corpo e alma. Sócrates, entretanto realça a Teoria dos Contrários levando a evidência que os opostos (vida/morte) são excludentes, visto que a morte é antagônica à vida. O processo que vai do nascer ao morrer, tem dois limites distintos: a vida, que vem da morte, e a morte que vem da vida. Entre esses dois momentos distintos (vida/morte) existe uma etapa (viver), onde um ser perfeito e eterno (a alma) partilha existência com um ente corruptível e fadado à destruição (o corpo). Sócrates argumenta que o dever do Filósofo é refletir a respeito da (morte/vida) como momentos antagônicos e excludentes e, feitas as comparações, obter como resultado a prova (primeira) da imortalidade da alma, uma realidade que antecede, transcende e perpassa o viver.


Para Platão o argumento dos contrários excludentes passa por uma investigação das oposições que ocorrem no mundo sensível mostrando as divergências encontradas entre este mundo, das sensações, e o mundo inteligível, concluindo que dos seres vivos procedem aos mortos e dos mortos procedem aos vivos. A Forma precede e prevalece ao objeto ou a cópia.


Platão desenvolve uma teoria da imortalidade da Alma tendo como alicerce uma comprovação fática: em um mesmo ser não se podem reunir predicados contrários e é de um contrário que vem o seu contrário, o Belo vem do Feio, o justo vem do Injusto, a Vida vem da Morte, etc. A Alma é que, como Forma, tem a eternidade entre os seus predicados. Assim, a Forma Vida sempre será antagônica a Forma Morte, como o Ser e o Não Ser são antagônicos.


O argumento dos contrários excludentes vem demonstrar um estado de alternância no que observamos com os nossos sentidos ou aceitamos com a nossa razão. A força do conjunto dos argumentos no Fédon é que sustenta a questão de ser a alma imortal, e que esta antecede e precede o corpo, não sendo destruída com este, nem tampouco apenas nasce nova a cada encarnação, mas persiste por todo o tempo, como entidade personalíssima e individual.


A prova dos opostos está, no diálogo, conjugada à prova da reminiscência, como parte indissociável, donde a alma é imortal e tem em si o logos, o que será lembrado por Sócrates. Deste modo, o que Platão almeja com o argumento dos contrários, na ordem posta no Fédon, é preparar o leitor para o entendimento do mundo das Formas, o que para ele, representa a Realidade em si, a Verdade em si, o Bem em si, e Conhecimento em si, aquilo enfim, que a alma contempla e se lembra, provando a sua permanência e individualidade. O antagonismo alma/corpo ou vida/morte é a parte visível, a olho humano, desta relação Forma/Simulacro, sendo este último o ente sujeito à corrupção.


O argumento dos contrários excludentes vem apenas provar um processo de vir a ser do corpo, como muitos argumentos emprestados por Pitágoras, Parmênides, Heráclito acrescendo a questão da permanência da alma como recebedora da Forma da Vida, que tem em si a imortalidade, e, portanto, não é suficiente para comprovar a permanência de uma alma racional sozinha. Por este motivo o Filósofo fará das lembranças mais um argumento da prova da imortalidade da alma. Para Platão, o conhecimento não é fruto da aquisição, mas um exercício de recordação. Uma recordação privativa da alma racional. A teoria da reminiscência se junta com outros argumentos a fim de provar se a alma é de fato imortal e personalíssima. Aprender seria para Platão um relembrar, e, a luta pelo relembrar é a obrigação do Filósofo, que é aquele que reconhece, quando confrontado, o que não foi plenamente esquecido e sabe que o seu destino, e obrigação, é percorrer os caminhos que levam ao Conhecimento em si, sendo, pois, sujeito inevitável de um processo chamado relembrar. Desse modo, este seria o primeiro passo para aceitar a teoria da anamnesis, ou da reminiscência, como argumento válido para a comprovação da imortalidade da alma, ou seja, a aceitação de que não existe, para o homem, o conhecimento. O conhecimento que ultrapassa a morte, e somente a alma, ser imortal, pode ter acesso, e que só poderá está acessível ao homem, através das lembranças deixadas no fundo da alma, sendo desveladas como segredos esquecidos, através da reminiscência de forma a encaminhá-lo ao encontro do Bem em Si.


Em resumo, antes de nascermos, temos o conhecimento pleno porque, quando Forma, participamos do mundo das Idéias e das Formas perfeitas. Porém, ao nascer, esquecemos, recebemos uma cópia imperfeita (o corpo), que apenas vê sob a força e auxílio de órgãos sensíveis, cópias imperfeitas. A razão, por outro lado é o caminho que nos permite tentar visualizar o mundo dos entes inteligíveis, esta visualização se faz pela recordação daquilo que foi visto pela alma, a nossa parte incorruptível e indestrutível. E, por fim, a obrigação do Filósofo, é tentar voltar a lembrar, tentar ver: o Igual em si, o Belo em si e a Realidade em si.


A morte de Sócrates estaria vinculada à noção de participação do Bem, pois, como ele mesmo afirma, é a noção do bem, que traz na alma, que o impede de fugir e o faz submeter-se às leis da cidade, mesmo que isto signifique a sua morte, pois este é o destino dos filósofos, perseguirem sem tréguas o Bem em si, encontrando virtude no cumprir a norma da Polis, mesmo que esta lhe pareça injusta.


Todos os processos de devir comportam reciprocidade na geração de contrários. Logo, o devir é uma alternância cíclica de opostos. Por exemplo, ao aquecimento o arrefecimento, ao aumento a diminuição, etc...Estabelecendo estas duas premissas o devir como uma alternância cíclica entre contrários, é forçoso verificar que também a morte nasce da vida e a vida nasce da morte, e a sucessão destes estados (vida-morte, morte-vida) exige, como sua condição que as almas persistam algures para voltarem a reencarnar, pois, se “estar morto” e “estar vivo” são contrários, também aqui existe devir.


Assim, se é certo que o que vem do estar vivo é o estar morto, é necessário que do estar morto venha o estar vivo. Logo e para complementar o processo do devir, conclui-se que morrer tem como seu oposto reviver, e vice-versa. Morrer é, portanto, passar do estado estar vivo para o estar morto, assim como reviver é passar do estado estar morto para o estar vivo. Existe, pois, um ciclo de nascimento, morte e renascimento. Mas, para que este ciclo exista, é necessário que, durante aquilo a que chamamos morte, a Alma esteja algures e, portanto, possua, neste período, uma existência separada, donde precisamente voltam para renascer. A morte é um estado provisório, passageiro, da existência da Alma – do morrer, renascer.


Sócrates: Ter uma alma desligada e posta à parte do corpo, não é esse o sentido exato da palavra morte?


Símias: É exatamente esse o sentido.


Sócrates: e os que mais desejam essa separação, os únicos que a desejam não são por acaso aqueles que no bom sentido do termo se dedicam à filosofia? O exercício próprio dos filósofos é precisamente libertar a alma e afastá-la do corpo. (Fedon, 67d).

foto tirada da Internet.

BIOSSINTESE!!!

BIOSSÍNTESE



www.biosynthesis.org


A Biossíntese é uma Psicologia Pré e Perinatal, uma Psicoterapia Somática e Psicodinâmica, uma Terapia Somática e Psicologia Transpessoal.

"A Biossíntese, como uma terapia do futuro, trabalha com o princípio do desdobramento do potencial latente, no qual os recursos da pessoa são fortalecidos e os problemas tornam-se menores. Há 30 anos a Biossíntese desenvolve um modelo de integração do corpo, mente e espírito. Pesquisas científicas em Neurobiologia, em Psico-neuro-imunologia e em Medicina Energética agora apóiam essa integração de diferentes formas. A cura (healing) em Biossíntese se torna uma ponte vital entre a essência e a existência, alma e soma, grounding interno e externo."  David Boadella e Silvia Specht Boadella

A Biossíntese foi elaborada pelo psicoterapeuta inglês David Boadella durante os últimos 30 anos a partir de raízes somáticas, psicodinâmicas e bioespirituais, começando com a vegetoterapia de Wilhelm Reich. A Psicoterapia Corporal vinculada a Reich estava se reduzindo a manipulações musculares mecanicistas, completamente contrárias à valorização dada por Reich ao contato humano na relação terapêutica. A palavra Biossíntese significa integração da vida e se refere a processos específicos de auto-formação que orientam o crescimento orgânico e o desenvolvimento pessoal e espiritual.

O conceito central da Biossíntese é a existência de três correntes energéticas fundamentais no corpo associadas às três camadas de células germinativas no embrião (ectoderma, mesoderma e endoderma), a partir das quais se formam os diferentes órgãos. Estas correntes energéticas se expressam:

• como fluxos de movimento através dos músculos;

• como fluxos de percepções, pensamentos e imagens através do sistema nervoso; e

• como fluxos da vida emocional no centro do corpo, através do sistema vegetativo.

Em um estado saudável ou maduro, todo este processo acontece de forma harmoniosa. Tensões e traumas vividos na vida intra-uterina e extra-uterina impedem a integração destas três correntes e o seu livre fluxo, provocando a emergência do distúrbio.

Em Biossíntese, quando trabalhamos com o corpo, utilizamos como base esses princípios da embriologia funcional, integrando e coordenando padrões de respiração, tônus muscular e de expressão emocional, conectando assim três áreas fundamentais da nossa qualidade humana: nossa existência somática, nossa experiência psicológica e nossa essência fundamental.

A Biossintese se baseia no crescimento orgânico, trabalhando com movimentos como formas ondulantes da respiração para liberar intencionalidades bloqueadas e estimular novas corporificações da psiquê, as quais denominamos posturas da alma.

A Biossintese dá ênfase às qualidades presentes no cliente, assim como à função da ressonância, da presença orgânica e do encontro terapêutico. O princípio bioespiritual da Biossíntese enfatiza o aspecto da compaixão pelo outro, fundamentada num contato claro, baseado nas qualidades essenciais da existência diária.

A Biossíntese é uma terapia de processo que aceita a maneira única do indivíduo e o espectro de vários caminhos de evolução, reconhecendo a multi-dimensionalidade do ser humano.

A Biossíntese, além de ser uma escola de psicoterapia somática, é uma forma de auto-desenvolvimento e auto-regulação baseada no processo formativo. Pode ser usada com a população em geral no sentido da prevenção de neurose: escolas, grupos de pais, grupos de mulheres, grupo de gestantes, grupos de 3ª idade, relação mãe-bebê nos primeiros momentos de vida, trabalho institucional, treinamento em empresas, etc. Como forma de psicoterapia, tem sido utilizada com pacientes neuróticos, psicossomáticos e borderlines. Trabalhamos tanto em forma individual como grupal, conforme a necessidade interna do cliente.

A Biossíntese é reconhecida pelo European Wide Committee da European Association of Psychotherapy (EAP) como uma modalidade científica de psicoterapia. Uma discussão sobre a validação das metodologias das psicoterapias na Europa está apresentada neste site, no artigo de David Boadella: Psicoterapia, Ciência e Níveis do Discurso. E ainda sobre a validação científica da Psicoterapia Corporal, ver o artigo "The European Asssociation for Body Psychotherapy (EABP)'s Answers to The European Association for Psychotherapy (EAP)'s Questions about the Scientific Vality of Body Psychotherapy".

O significado deste reconhecimento é de grande importância. Isto significa que o método da Biossíntese é aprovado por todas as associações profissionais de psicoterapia pertencentes à EAP em 36 países e também em todas as Organizações Européias pertencentes à EAP nas outras formas de psicoterapias (Gestalt, Análise Transacional, etc.).

"No dia 24 de Outubro de 1998, no Club Fondation Universitaire, em Bruxelas, baseado na Declaração de Strasbourg em Psicoterapia (1990), e conforme os objetivos da Organização Mundial de Saúde e com o apoio e incentivo da União Européia em sua política para altos padrões e qualidades profissionais, a Biossíntese, juntamente com seis outras direções em Psicoterapia, foi aceita unanimemente como uma modalidade de treinamento cienticamente válida pelo European Wide Committee da Associação Européia de Psicoterapia (European Association of Psychotherapy). E por 27 votos em 34 no European Training Standarts Commitee e por 31 votos em 34 no Executive Board of the Association.

Este credenciamento é a culminação de um processo de dois anos de intensivas consultas em Viena, Roma, Amsterdam, Londres, Paris e Bruxelas, baseado na apresentação de dossiês com evidências substanciais em 15 critérios de validação científica criados pelo Scientific Validation Working Party of the European Association e estabelecidos antes do primeiro congresso do World Council for Psychotherapy, Viena, Julho de 1996.

Outras modalidades de psicoterapias que também foram aceitas nesta primeira leva de aplicações para o credenciamento junto a EAP são: Análise Transacional, Psicoterapia Gestalt, Terapia Familiar, Psicoterapia Integrativa, Psicoterapia Comunicativa e Psicoterapia Positiva ".

David Boadella é o fundador e diretor do International Foundation for Biosynthesis -IFB (Heiden, Suiça), é fundador e foi presidente da Associação Européia de Psicoterapia Corporal durante muitos anos e é fundador e diretor da Revista “Energy and Character”. Autor de muitos livros em Psicoterapia Corporal. Nos anos 80 levou a Biossíntese a mais de 20 países. Atualmente é Chairman da Comissão de Validação Científica da Associação Européia de Psicoterapia, e vem buscando a validação científica da Psicoterapia Corporal e, em particular, da Biossíntese na Suíça e na Europa.



""O contrato do terapeuta é tentar encontrar o lugar mais seguro da pessoa para fazer o primeiro contato. "

David Boadella

"Todo o trabalho para proporcionar "firmeza" ao corpo através do trabalho postural nas situações de estresse, com liberação catártica de emoções bloqueadas, tem o seu valor. Mas dessa forma, trabalha-se a firmeza externa. Precisamos aprofundar e enriquecer esse processo, prestando atenção à maneira como a pessoa constrói o seu espaço ou organiza o seu tempo, que percepção ela tem de sua capacidade de se formar através de uma participação mais intensa em seu próprio processo.

Precisamos ajudá-la a encontrar a sua "firmeza" interior, a sua essência, a fonte de onde brota a energia curativa, que tem o poder de integrá-la novamente, não importa quanto ela esteja condicionada a não se sentir viva."

David Boadella




Livros


Boadella, D. - Correntes da Vida - Uma introdução à Biossíntese, Ed. Summus, 1992


Boadella, D. - Nos Caminhos de Reich, Ed. Summus, 1985.


Boadella, D. - Jesus, the Heretic, Sloane and Partner, England.


Boadella, D. - Between Coma and Convulsion, Sloane and Partner, England.


Coleção de artigos:


Boadella, D. - Embriologia e Terapia (tradução interna )


Boadella, David, Transferência, Interferência e Ressonância, Cadernos de Biodinâmica 3, Editora Summus, 1985.


Boadella, David, inúmeros artigos desde 1970, Energy and Character, The International Journal of Biosynthesis, pedidos à Escola de Biossíntese do Rio de Janeiro ou ao International Institute for Biosynthesis.


Boadella, David, Common Ground and Different Approaches in Psychotherapy. Biosynthesis: A Somatic Psychotherapy, Editor Escola de Biossíntese do Rio de Janeiro, 1998 (em www.biossintese.psc.br/artigos.htm) .


Frankel, Esther, Afetos da Vida Uterina, Energia e Cura, Editora Vozes, Vol 84, Outubro, 1990 (em www.biossintese.psc.br/artigos.htm).


Frankel, Esther e Corrêa, Milton, Da Ciência da Informação à Psicoterapia Corporal, Energia e Caráter 1, Editora Summus, 1997.


Frankel, Esther e Corrêa, Milton, A Cognitive Approach to Body Psychotherapy, Energy and Character,Vol 30,1, September, 1999 (em www.biossintese.psc.br/artigos.htm).


Corrêa, Milton e Frankel, Esther, Escultura da Biossíntese. Dimensões da Vida, em www.biossintese.psc.br/artigos.htm

Texto tirado da Internet.